JANELA #2 uma obra do artista HÉCTOR ZAMORA para AURORA
Proyecta uno de los muchos finales de su libro inconcluso, y deja una maqueta. La página contiene una sola frase: ‘En el fondo sabía que no se puede ir más allá porque no lo hay.’ La frase se repite a lo largo de toda la página, dando la impresión de un muro, de un impedimento. No hay puntos ni comas ni márgenes. De hecho un muro de palabras ilustrando el sentido de la frase, el choque contra una barrera detrás de la cual no hay nada. Pero hacia abajo y a la derecha, en una de las frases falta la palabra lo. Un ojo sensible descubre el hueco entre los ladrillos, la luz que pasa.* En 1977 Walter de Maria enche um segundo andar de um antigo edificio em Manhattan com 197m3 de terra, chegando até quase os 60 cm de altura, o limite inferior das janelas. Desde o interior, olhamos para as duas salas cheias de terra sem poder entrar nelas. A luz se derrama no espaço que ninguém habita. Da rua vemos a luz accesa a traves de oito aberturas. A certeza de que ninguém está dentro daquele lugar permanentemente iluminado, exaspera.
Quando mudei para o Copan a minha sala tinha um caixilho do piso ao teto com 9 m de comprimento. Aquela generosidade de relação com a cidade emocionava lá no andar 19. Mas o primeiro modulo de vidro estava tampado pela faz interior com um muro de tijolo que pedi para demolir. Até hoje vejo, desde o Louvre, esse tipo de muretinhas subir na fachada dos fundos do Copan, como negações do exterior, vertigens vitais confinadas. Numa recente video-conversa com Héctor Zamora, ele mostrou para nós parte da sua coleção de tijolos. O tijolo espanhol, bem familiar para mim, o tijolo francês, mais estreito e estilizado, cada um deles representando uma visão do mundo, uma proposta construtiva. Em cada viagem Héctor visita uma loja de construção para descobrir as peças locais e trazer alguma delas na mala. O tijolo é talvez a partícula mínima da gramática com a que se constroem muitas cidades, as vezes letra a, as vezes !, as vezes pontos suspensivos. Ao olhar através da única abertura da parede se sente o vento batendo forte no rosto. O ar que não pode ser controlado. Segundo a Odiseia, Aeolus, deus dos ventos, tentou ajudar Ulisses, que o visitou em seu retorno a Ãtaca. Aeoulus deu ao herói um vento favorável, e uma bolsa contendo todos os outros ventos que deviam ser usados com cuidado. No entanto, a tripulação de Ulisses acreditou que a bolsa continha ouro e abriu-a, causando tempestades severas. Lei de funil. Lei injusta que não é igual para todos, protege alguns em detrimento de outros. ‘La ley es tela de araña, y en mi ignorancia lo explico, no la tema el hombre rico, no la tema el que mande, pues la rompe el bicho grande y sólo enrieda a los chicos. Es la ley como la lluvia, nunca puede ser pareja, el que la aguanta se queja, más el asunto es sencillo, la ley es como el cuchillo, no ofende a quien lo maneja. Le suelen llamar espada y el nombre le sienta bien, los que la manejan ven en dónde han de dar el tajo, le cae a quién se halle abajo, y corta sin ver a quién. Hay muchos que son doctores, y de su ciencia no dudo, mas yo que soy hombre rudo, y aunque de esto poco entiendo diariamente estoy viendo que aplican la del embudo’.**
* Julio Cortázar. Rayuela. Cap. 66.
** José Hernández. Martín Fierro.
Textos de Isabel Martínez Abascal ao redor de JANELA #2 uma obra do artista HÉCTOR ZAMORA para.AURORA